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Sem Figura & Sem Final

Posted by Arthur on 20:12 in
Pegou uma folha de papel.
Tentou escrever e só conseguiu rabiscar.

Só conseguia pensar em poemas metalinguísticos ou contos fajutos daqueles com um ponto de virada tão estrategicamente colocado no momento esperado, contradizendo-se, portanto, em essência.

"Que tal se eu desembestar a escrever um livro sobre o próprio processo de criação do livro?"
- A tal da metalinguagem emergiu de novo para o lembrar do Woody Allen. Não gostava de Woody Allen. Não queria estilhaçar a sua própria quarta barreira.

"E se eu começo a trabalhar num roteiro em que um porteiro de edifício finge ser um detetive particular? Daí ele começa a coagir os moradores do condomínio anonimamente, tendo em mãos informações privilegiadas que só um porteiro pode ter?"
- Só a escrita daquela sinopse cotidiana parecia um retrato da feição ruiva dos irmãos Cohen. Onde iria encontrar seu estilo? Onde iria registrar sua marca? Certamente não ali naquela ideia de autoria tão clamada por terceiros.

"Já sei! Aliens Zumbis! Ninguém nunca fez nada de Aliens Zumbis! Já pensou o potencial de um crossover de Ridley Scott com George Romero?"
- Pfff... Riu da imbecilidade da própria ideia. Que droga viver em um mundo onde a forçação de barra por propostas originais acabam por resultar nessas piadas: Alienzumbis, francamente.

Devia ver menos filmes.
Talvez aí chegasse ao ponto de misturar suas referências na medida certa, surgindo com algo que pelo menos convencesse uma certa originalidade.
Talvez aí parasse de achar que tem de, obrigatoriamente, ser ou o mocinho de coração partido ou o cafajeste sem nada a ser rachado.
Talvez ele fosse um coadjuvante.
Talvez ele fosse um figurante.
Talvez ele não fosse nem mesmo o roteirista.
Talvez ele fosse só alguém que lê o roteiro da maneira esperada, com a entonação e pontuação idealizadas.

Ninguém se imagina como figurante da própria vida. Todo mundo pensa em si como um herói digno de registro. E hoje, ainda que ele não o fosse, deixaria registrado em forma de texto misto a ideia de que sim; o era.

De repente, constatou que até mesmo o conto que estava escrevendo não passava da soma de duas reflexões textuais lidas mais cedo no mesmo dia, de autoria de qualquer dupla de colegas blogueiros. Desistiu de forçar a tal imagem de heroísmo e parou de escrever sem nem mesmo conclu

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